Quando a vida dos outros é um bocadinho nossa

Há dias tive o prazer de ir ver um espetáculo de StandUp Commedy num tempo que tem pouco espaço para o riso ou - pior - tem muito espaço para a crítica e a defensividade alheia. Tem vindo a ser cada vez mais comum o aumento de barreiras entre o público, a diretividade de uns contra os fundamentos de outros e acabamos por aumentar fossos de descontentamento, tristeza, zanga e - no limite - ódio.

O espetáculo que pude presenciar debate esta área mais ou menos ofusca do que pode ser uma parentalidade consciente em pleno século XXI. Há cerca de 4 ou 5 décadas o esforço exercido pelos pais junto dos seus filhos_Geração X (1965-1980) era potenciar aquilo que hoje conhecemos como a última geração que viveu priveligiadamente o melhor de dois mundos: a Geração Y - Millenials (1981-1996) moldou-se entre um tempo “rural” e debilmente vestido com fatos de treino comprados no mercado da aldeia mais próxima e o tecnológico que começava a invadir as nossas vidas com a chegada dos primeiros Machintosch (outros haveriam, mas este era um nome da altura), os primeiros BIP’s e a primeira Banda Larga… Desejavam-lhes (os pais) a faculdade e um trabalho melhor que o deles, mas tudo em modo automático e autónomo, pois a sua (única) função seria a de suprir dificuldades com trabalhos intercalados entre as 5 da manhã e as 9 da noite. Nada de afetos, apenas conquista monetária ou pobreza aumentada.

Passámos (no espetáculo) com a cara ao lado do que hoje a nossa sociedade enfrenta, seja do lado dos “novos” pais seja do lado dos jovens de hoje, esta geração que dizemos de poucos costumes e muitos pedidos_a Geração Alpha (2013-2020), mas não podemos esquecer a sua antecessora, a Geração Z- Zoomers (1995/2010). Já muitos se tem manifestado e legitimado em termos científicos o que deixámos a estas gerações: um maior nível de desgaste psicológico, uma maior taxa de incidência de quadros depressivos, de ansiedade generalizada e stress, menor capacidade para gerir tempos e desligar-se das redes móveis que lhes pertence legítima e particularmente e - surpresa - uma redução da massa do que nos define como seres em constante progressão intelectual: os nossos jovens apresentam índices de Inteligência mais baixos hoje do que qualquer uma das gerações anteriores.

Pelo caminho deixam-se cair peças que retiram a máscara dos sorrisos forçados pela necessidade de pertencer a algum lado, mesmo que isso atente contra nós, contra o nosso bem estar psicológico e/ou físico, contra os nossos valores e morais. É possível olhar em nosso redor e pensar em quem já perdemos pelo caminho: guerra, reclusos, cancro, consciência, valor, moral, grito, revolta, filhos únicos ou casa com tantos que todos ralham e ninguém tem razão… vida, morte, começo, fim, orgulho, vergonha… Quando percebo, já deixei cair aquela lágrima que homenageia quem se permite à exposição, quem não a sente como exposição mas sim como partilha, porque é isso que nos une uns aos outros: a relação! A hipótese de me conectar! O toque e o riso!
Na Coramente homenageamos cada palavra dos nossos clientes, guardando com o privilégio a que nos permitem aceder o melhor e o mais doloroso que habita em si. Rimos do sucesso de cada cliente, e olhamo-lo sempre com uma lente de autodescoberta, autocuidado e amor próprio. Nem sempre chegam assim, raramente chegam assim, aliás. Acolhemos, ajudamos a contar a história que sendo de mais ou menos pertença, é sua antes de ser de outros.

Deixamos a breve nota da importância de se cuidar nos pequenos gestos: saia com amigos (vá ver um espetáculo leve), repita atividades que lhe dão prazer, pratique desporto, selecione informação com fundamento científico ou confirmado e legitimado em fontes fidedignas, escreva, volte a pintar, vá à praia, faça uma caminhada. Peça desculpa, refaça amizades e evite ambientes negativos ou que acarretem custo ao seu bem estar. Partilhe medos, ria de coisas tontas, colha uma flor, ou dance na chuva que está por chegar. Sinta o cheiro das castanhas e recorde qual foi a sua infância.

No final de tudo, homenageie a sua VIDA. Se precisar de ajuda, estamos por cá… a sua vida tocará (sempre) a nossa!

Boa semana

Drª Ângela Melo

Anterior
Anterior

A liberdade de J.L.Moreno

Próximo
Próximo

Conceitos em Terra firme. A importância de (re)lembrar renovando…